Bebida Forte Congelada (Mistérios do Campus Braxton Livro 6)
Traduzido por Heloisa Miranda Silva
Resumo do livro
Uma nevasca ameaça o Condado de Wharton, trazendo caos e mistério para Kellan. Com sua avó desaparecida, um paciente morto e outro corpo encontrado na neve, ele enfrenta desafios que abalam sua vida e a de April. Segredos emergem enquanto Kellan busca respostas antes que a tempestade destrua tudo.
Trecho de Bebida Forte Congelada (Mistérios do Campus Braxton Livro 6)
Capítulo 1
— Grrr! Argh! Blech! — circulando a área de comércio no Centro do distrito pela terceira vez, eu implorei aos deuses do estacionamento para graciosamente me cederem um espaço aberto. Todo mundo, junto com suas mães, andava pelas ruas em uma busca frenética por suprimentos e por sua sanidade acovardada. Uma nevasca poderosa seguia em direção ao Condado de Wharton, e todas as quatro cidades haviam enlouquecido com medo da chegada iminente do Dia do Juízo Final. Eu insistia que a premonição da Madame Zenya sobre o desastre era uma alucinação, apesar de ter ficado preocupado por ela ter acertado em cheio no alvo por várias vezes.
– O que é essa bobagem? Você está falando em inglês, Kellan? – Lara, uma ex-modelo de quarenta anos, que havia se tornado repórter, gritou na ligação cheia de estática. Nós havíamos nos conhecido no ano anterior, quando ela havia sido a moderadora dos debates políticos da Nana D. Depois que a charmosa Miss Bouvier havia co-investigado uma morte suspeita naquele verão, nós nos tornamos bom amigos e colegas no nosso show de televisão, o Realidade Sombria.
Eu joguei o fone de ouvido no banco de passageiro, coloquei meu celular no viva-voz, e agarrei o volante com tal ferocidade que ele ficou, permanentemente, com as marcas das minhas mãos.
— Desculpe, o fone de ouvido cortou o som. É bom que você não tenha ouvido o que eu murmurei. Não eram as palavras mais elegantes.
— Pelo amor de Deus, estacione na zona de carga em frente à Farmácia Nutberry. A sua avó é a prefeita. Você está namorando com a Xerife. Eu duvido que vá receber uma multa. — Lara gargalhou divertida com a minha situação atual. — A não ser que elas estejam conspirando para se vingarem de você... hmmm... pensando melhor, você está certo. Dê mais uma volta. Eu suspeito que você vá ter sorte em breve.
— Sim, a Nana D e a April raramente se dão bem, mas me torturar é o único passatempo que elas têm em comum. — ao perceber uma vaga vazia no canto mais distante, eu virei gentilmente o volante e dirigi rapidamente até ela. — Você estava certa! Encontrei uma vaga.
Era a minha segunda visita à farmácia na última hora. As minhas visitas não eram exatamente apreciadas pela família Nutberry, já que eu havia descoberto que um deles havia cometido crimes na primavera passada. Assassinato não era conhecido por unir as pessoas em uma harmonia feliz. E nem a ameaça de um clima inclemente.
Logo após terminar um dia ensinando a estudantes que rezavam pelo cancelamento das aulas da próxima semana, por causa da tempestade gigantesca que vinha na nossa direção, uma dúzia de pequenas tarefas de último minuto ainda preenchiam a minha lista de afazeres. Depois que eu havia terminado de cumpri-las, meu primo, de quinze anos de idade, me informou que seu desodorante havia acabado. Ulan havia se tornado minha responsabilidade depois que o Tio Zach estendeu o período da sua expedição africana para proteger uma espécie rara de elefantes. Sob circunstâncias normais, a despeito dos hormônios adolescentes e dos vapores nocivos emanando do quarto dele, eu esperaria até amanhã para comprá-lo. A procrastinação não era possível com esse tempo. Ulan e a minha filha de sete anos, Emma, estavam de partida para a Disney World pela manhã.
— Excelente. Nós precisamos discutir sobre o segmento do Hiram no Realidade Sombria. Apesar de ele ter melhorado, após emergir do coma no mês passado, a recuperação dele vai levar meses. Ele concordou em se afastar e recomendar um juiz temporário para seu lugar antes da próxima eleição. — Lara exclamou depois da sua visita improvisada ao Centro de Reabilitação Willow Trees. O Juiz Grey, seu antigo sogro, estava se recuperando de um acidente que sofreu na hayride assombrada e que havia ameaçado a sua vida quatro meses antes.
— E o Condado de Wharton dá um suspiro de alívio coletivo. A Nana D vai dançar um sapateado irlandês quando o velhaco magistrado vagar o banco. Sayonara para toda aquela burocracia antiquada que ela está tentando eliminar. — para falar a verdade, o homem não tinha chances de se reeleger. Quando vazaram as notícias sobre a sua conspiração com um psiquiatra para assassinar uma paciente saudável e sã, anos atrás, os cidadãos se revoltaram. Os únicos motivos para o atraso do tumulto era a submersão dele num coma e sua incapacidade de exercer seus deveres judiciais.
Lara falava, animada, sobre os planos da Nana D para livrar o nosso condado da corrupção.
— Quando eu cheguei lá, uma moça jovem com uma mecha de cabelo verde-pastel gritava com ele sobre ele ter destruído famílias. Bom pra ela!
— O Juiz Grey é uma praga para o Condado de Wharton. Ele, por acaso, revelou o nome do seu substituto?
— Não, ele se recusou. Honestamente, parecia que o Ceifeiro já estava batendo à porta dele. O meu coração se doí pela Imogene. A minha filha ama tanto o seu avô, mesmo apesar de todas as coisas vergonhosas que ele fez. — Lara compartilhou um update sobre a condição do Hiram: vivo, mais arrogante do que o normal, e implorando para que alguém levasse escondido uma garrafa de conhaque caro. — Dá pra acreditar que ele guarda um copo de cristal especial no Centro de Reabilitação para os seus coquetéis a cada hora? Até mesmo aquela enfermeira ruiva meticulosa ameaçou bater nele se ele lhe desse mais uma ordem.
— Com todas as minhas frustrações neste momento insuportável, as exigências do Hiram não soam tão mal.
— Você precisa relaxar. Termine as suas tarefas, siga para casa, e beba alguma coisa forte para silenciar essa atitude. — Lara sugeriu que nos encontrássemos para um café-da-manhã na manhã seguinte, na Lanchonete Pick-Me-Up, a confortável e famosa lanchonete da minha irmã, para planejarmos o episódio que sobre as famílias Garibaldi e Grey.
— Está devidamente anotado. — eu afundei o pé nos freios, fazendo com que minha cabeça batesse com força no descanso do banco, indo de um lado para o outro, até que eu praticamente bati contra o painel também. — Não acredito! Quem ele acha que… de todas as coisas… mas que…
Lara me interrompeu, antes que eu pudesse murmurar outra onda de obscenidades que fariam com que a Nana D lavasse a minha boca com sabão.
— O que está acontecendo? Você voltou a falar bobagens novamente, querido. Para um professor de literatura e filmes em Braxton, as palavras não vêm naturalmente para você, ou vêm?
— Algum idiota pegou a minha vaga. Ele disparou na minha frente. — eu abaixei a minha janela, fiquei arrepiado com a rajada gelada que pinicava as minhas bochechas, e esperei que o parasita sorrateiro saísse do seu pequeno carro esportivo vermelho.
Um homem alto e robusto, no começo dos trinta anos, a mesma idade que eu, saiu do conversível e seguiu andando, como se não se preocupasse com o mundo. Juro que ele balançava a cabeça e cantarolava Bad, do Michael Jackson. Eu grunhi e olhei feio para o idiota passeando com seus jeans escuros, uma camiseta de gola V preta, e uma touca de esqui nórdica, que cobria a maior parte de seu rosto bem estruturado e com barba. O cara não tinha nenhuma gordura corporal para se ver, como ele andava pelas ruas, vestido daquela maneira, quando nós estávamos nos aproximando da idade do gelo novamente? Era a metade de fevereiro e estava mais frio do que no Ártico. Não importava o quanto eu tentasse, mesmo tendo crescido nesse globo de neve, eu não conseguia voltar a me acostumar com os invernos rígidos da Pensilvânia depois de ter morado em Los Angeles pela última década.
— Hey, desculpe, cara. Não percebi que você queria aquela vaga. — ele disse despreocupadamente, encolhendo os ombros enquanto seguia para longe com uma risada imatura e mal disfarçada. — Boa sorte na próxima vez.
Enquanto ele se virava, a tatuagem de uma cobra, com a maior língua que eu já tinha visto, rodeava todo o comprimento de seu braço musculoso, me surpreendendo, assim como me deixando confuso. Apesar de eu não conhecer todo mundo na nossa pequena cidade, eu tinha certeza de que ele vinha de outro lugar.
— É sério isso? Você vai sair andando dessa maneira? — enquanto parado no meio da pista, eu rosnei e parei o carro, me lembrando de que a Lara ainda estava ao telefone. — Espere um pouco. Esta era a última vaga, e eu estou com pressa.
— A vida é curta, cara. Você tem que pegar o que quer e nunca olhar para trás. — o ladrão de vaga desagradável deu uma piscadela, começou a correr devagar, e acenou para um homem baixo, de pele escura, próximo da esquina da Farmácia Nutberry. Ele entregou ao outro homem um pequeno pacote, e em troca, o ladrão de vagas coletou um envelope de banco que, discretamente, colocou em seu bolso traseiro. Será que eu tinha testemunhado uma venda de drogas em progresso?
Lara gritou o meu nome.
— Deixe disso. Encontre outro lugar. Vejo você amanhã de manhã, se nós dois sobrevivermos a esse apocalipse iminente. Ciao, babe.
— Obrigado pelo conselho! — eu engoli a minha raiva crescente e considerei minhas opções. Levaria cinco minutos para correr até a loja, pegar um desodorante, que iria nos proteger do suor mortal do Ulan, e correr de volta ao carro. Com a decisão unanimemente tomada, eu estacionei atrás do carro vermelho, me assegurando que o motorista delinquente não pudesse dar marcha ré, e fui completar a minha tarefa. Era raro que eu lutasse com fogo, mas ele merecia a minha ira, e eu iria retornar antes dele, mais provavelmente.
Enquanto me aproximava do balcão da nossa farmácia familiar, franzindo o cenho para as cinco pessoas na minha frente, eu ergui o desodorante para a Tiffany Nutberry. Gesticulei algo que dizia que eu estava com pressa, ou que havia ficado com a língua presa em um pingente de gelo, então, implorei para ela adicionar na minha conta. A antiga colega de faculdade do meu irmão assentiu e se focou em seu próximo cliente. Às vezes, morar em uma cidade pequena onde todos sabem o seu nome era uma maldição benéfica.
Eu me retirei para a porta da frente, vasculhando a área a procura do estranho que havia roubado a minha vaga, mas não encontrei nenhum sinal do meu mais novo inimigo mortal, ou do estranho que ele havia, disfarçadamente, encontrado. Enquanto eu atravessava a rua, um bilhete no meu para-brisas e uma vaga de estacionamento disponível chamaram a minha atenção. Eu li a mensagem ansiosamente:
Seu plano deu errado. O meu não. Eu sei como ficar quite. Além disso, não desisto facilmente.
Um homem petulante teria chutado seus pneus em frustração. Um cara inteligente teria deixado isso de lado e escapado sem um ataque de raiva colossal. A julgar pela pulsação no meu pé enquanto eu pisava no acelerador para sair rapidamente do espaço vago, meu nível de maturidade seguia para uma direção não muito ideal.
Havia sido um dia e tanto. Se eu pudesse devolvê-lo e pedir um reembolso, ou roubar um novo de uma prateleira de descontos, teria sido melhor. Enquanto eu dirigia até o Rancho Danby, a fazenda e pomar orgânicos da Nana D, conjurei maneiras de me vingar do ladrão de vaga e prestei atenção ao final de uma previsão do tempo regional, ou um aviso desesperado de que nós iríamos logo marchar para uma morte dolorosa. Eu não conseguia decifrar o tom desolador dele.
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