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O último Herói

O último Herói


O último Herói - Excerto Do Livro

1º de Maio de 2015.

O pub mal iluminado cheirava a fumaça de cigarro e a suor. Em um dos cantos do bar um homem velho estava engajado em um debate caloroso com o bartender, algo que já tinha se extendido por mais de uma hora. Em um minuto já tinha dado um discurso sobre a indisciplina dos jovens da cidade e depois ele reclamou da repressão da elite corporativa sobre os pobres trabalhadores. Isso já era o suficiente para deixar qualquer pessoa sã muito irritada, mas o bartender, parecia possuir uma muralha de aço.

No lado oposto do bar, longe, em um canto escuro do bar, havia um casal de meia idade sentados em um banco com suas cabeças curvadas, mais interessadas em seus drinks do que um no outro. Ela bebericava uma cerveja leve enquanto ele remexia no martini com o próprio dedo. Com Exceção dessas pessoas, só havia mais uma pessoa neste bar: Um estranho excluído sentado no lado oposto em um canto do bar sacudindo o copo com sua bebida dentro, como se fosse feita para fazer amor com ela. Ele curvou a cabeça e com as duas mãos em concha, abraçou seu copo, em um abraço de amor. Ninguém naquele bar exceto o bartender, prestou atenção nele. O homem preferia desta maneira.
O homem envolveu a privacidade e embrulhou-a em sua volta como um xale. A quietude foi a primeira razão pela qual ele frequentava o lugar. Claro que não era pelo absurdo do preço, ou pelo xixi que eles chamavam de licor ou pela gritaria que eles chamavam de música. A porcaria que vinha do jukebox era como unhas arranhando o quadro negro e era o suficiente para deixar uma pessoa num estágio descontrolado de raiva. O homem ouvia música melhor que vinha da cadeira de um dentista.

O idoso do outro lado do bar fez uma pausa na discussão, o tempo suficiente para correr para o banheiro. O bartender usou este bem -vindo intervalo para perambular pelo bar e dar uma olhada no estranho.

“Como você está, Parceiro?” Ele sorriu e bateu o lado do copo com seu dedo indicador. "Quer mais bebida? Material de alta qualidade?”

O estranho assentiu, engoliu o resto da bebida e se voltou para o barman. Antes que o barman pudesse levantar o copo, a mão do homem disparou e agarrou seu pulso.

"Não se incomode em colocar mais gelo na bebida", ele rosnou. "Eu acho que você já colocou xixi o suficiente nesta porcaria

O sorriso do barman vacilou, e ele analisou o estranho, estudando-o para ver se o homem era uma ameaça. O barman normalmente mantinha um taco de beisebol de alumínio embaixo do balcão. Havia sangue o bastante em sua superfície  para provar o que acontecia com aqueles idiotas que não queriam cooperar. A última coisa que precisava era um bêbado violento que arruinasse seu bar, e ele não hesitaria em deixar o metal voar.

O homem soltou o pulso do barman e deu-lhe um okay. "O trago daqui é sempre bom," ele murmurou.

Depois de estudá-lo um pouco mais, ele finalmente concluiu que o estranho não causaria um tumulto, pelo menos por enquanto, e partiu para encher seu copo. Quando voltou, deslizou pelo balcão. O estranho olhou para cima e puxou o capuz para trás, revelando cabelos castanhos escuros, gordurosos e emaranhados de suor vencido. O cabelo caiu sem vida em sua testa. Ele o afastou de seus olhos escuros e vazios, como se alguém batesse em uma mosca. O olhar do homem era de alguém bêbado que tinha acabado sair de uma adega de vinho em um porão por 10 anos de conservação, enterrado profundamente cheio de terra. Havia sal e pimenta na nos pelos de sua barba e na  metade inferior de seu rosto onde podiam ser observados restos de crosta de sua última refeição.

Drogado. Essa foi a primeira reação do barman. Quando o estranho levou o copo aos lábios, ele estreitou os olhos com um sentimento de familiaridade sobre o estranho. Foi no tempo em que o estranho colocou o copo para baixo, enxugou a boca com o dorso da mão e sorriu que o barman o reconheceu.

"Minha nossa, não pode ser!" Exclamou ele com olhos arregalados de surpresa. "É você!"  

O sorriso do estranho desapareceu e seus olhos se fecharam. Ele respirou fundo e deixou escapar o ar lentamente. O homem enfiou a mão no bolso e tirou um maço de cigarros junto com um isqueiro de plástico moldado na forma de um caminhão de bombeiros. Ele colocou o cigarro em sua boca e pressionou o botão em cima da cabine causando uma chama laranja, matizada com apenas uma pitada de azul, para a traseira do caminhão. O homem levou o fogo até o fim do cigarro e acendeu-o. Depois de respirar um par de longas tragadas, ele empurrou o pacote e o isqueiro para dentro de seu bolso.

“E quem eu deveria ser? O homem perguntou.  

O barman engoliu em seco. "Ei, escute, amigo, eu não ser rude com você. Eu só pensei ... quero dizer ... as pessoas pensaram que você estava morto."  

Talvez eu esteja - respondeu o desconhecido secamente. "Você não deve acreditar em tudo que você ouve nas ruas. A estrada que conduz a esta cidade é pavimentada com fofocas. "  

O barman relaxou ligeiramente e riu. "Sim, claro, seja o que for." Ele tirou um pano do bolso traseiro e poliu a bancada em uma tentativa vã de persuadir o estranho que sua curiosidade tinha diminuído. O estranho olhou para ele com um olhar velado, enchergando o momento com olhar ardiloso.

O barman parou de esfregar a superfície do balcão e devolveu o pano a seu lugar. "Bryan? Esse é o seu nome, certo?  

Bryan deu uma longa tragada no cigarro e deixou a fumaça vagar lentamente entre os dentes. "Costumava ser", o homem respondeu secamente.  

"Desculpe, cara, eu não queria me exaltar assim", explicou o garçom. - Năo é com frequęncia que temos o seu tipo por aqui. – e depois ele virou o polegar por cima do ombro, em direção ao idoso que, depois de voltar do banheiro, continuou a reclamar sobre Crown Royal e murmurando para si mesmo. "Como você pode ver, nós temos a escória frequente por aqui”.

"Meu tipo?" Bryan olhou para cima lentamente de seu copo e colocou o cigarro em um cinzeiro próximo. "O que isso quer dizer?"  

O barman ofereceu um sorriso nervoso em um esforço para difundir a situação. "Celebridades, é claro." .

A sarcástica risada de Bryan ecoou por todo o bar. O idoso olhou para eles com ligeira curiosidade. O casal no canto olhou para cima de suas bebidas e miraram o homem. Dentro dos limites da taverna quase vazia, o riso ecoou fora das paredes, no entanto não havia nenhuma sugestão de humor contido nele.    

"Celebridades?" Bryan perguntou. "Claro, homem, o que quer que flutue seu barco. Apenas mantenha as bebidas vindo e não fique tçao irritado comigo. Eu não assino autógrafos, a menos que você seja uma mulher com grandes peitos, é claro."  

“O barman sacudiu a cabeça vigorosamente. "Não, não, nada disso! Desculpe incomodá-lo. Que tal agora? Sua bebida está na casa e já está a caminho, ok? "  

Bryan apontou o dedo e ergueu o polegar como uma arma. "Agora você está falando!" Ele ofereceu ao barman um amplo sorriso. Com o reflexo da iluminação baixa, o sorriso parecia mais demoníaco do que alegre.  

                    O barman praticamente tropeçou sobre si mesmo para olhar o idoso. Parecia que discutir sobre a cidade tinha sido melhor do que lidar com um beberrão na sua  frente. Bryan não culpou o cara; Ele teria feito o mesmo se os papéis fossem invertidos. Ele ergueu o copo até os lábios, mas parou quando o noticiário apareceu na televisão mostrando sobre o "Town Tap" atrás do balcão. Uma figura mascarada, adornada da cabeça aos pés com uma armadura preta, com vários dispositivos presos a um cinto em volta da cintura, arrastava dois adolescentes algemados pelo chão em direção aos carros da polícia. A polícia mirou suas armas nos dois adolescentes enquanto a figura mascarada ajustava um tubo de nylon preso no seu pulso. O tubo correu do bracelete para um pacote em suas costas. A cena correu para um repórter que estava a cerca de um quarteirão da situação. 

"Como você pode ver a situação do refém poderia ter se tornado mortal se não houvesse a intervenção heróica de Oracle.De acordo com uma testemunha ocular, a polícia não conseguiu abrir um diálogo com assassinos que ameaçaram assassinar uma mulher grávida. Nossas fontes nos disseram que os dois homens que tomaram sua refém eram ex-membros da gangue de rua 'The Raging 86's' e a mulher era uma ex-namorada de um dos líderes. Fique ligado para mais detalhes."  

Oracle ficou de pé em frente ao bando de gangues que se retorciam, observando os espectadores, aglomerados atrás da faixa policial amarela brilhante com adoração em seus olhos, gritando seu nome. Seus rostos, cheios de excitação, olhavam para o herói através dos olhos esbugalhados como se ele fosse a segunda vinda de Jesus Cristo.  

O Oracle tinha começado sua missão como o herói atual. Normalmente, um herói cumpriu um mandato de quatro anos, antes de passar para o próximo. Esse protocolo de segurança tinha sido posto em prática quando a Hero Factory foi criada em 1981. Brady Simmonelli, presidente da Hero Factory, promoveu-o para o protocolo de segurança principal. "O poder corrompe e nosso objetivo é prevenir a corrupção", disse ele quando a organização foi fundada. Bryan jamais esqueceria essas palavras.    

"O poder corrompe de fato", Bryan murmurou para si mesmo enquanto observava a situação se desenrolar na televisão.    

Desde 1981, o Programa “Hero” tinha sido extremamente bem sucedido em todos os anos de existência. O crime tinha caído setenta e cinco por cento. Em 1990 (durante o período de Twilight Shadow) uma força policial foi estabelecida dentro dos limites da cidade pela primeira vez desde 1976. As gangues tinham sido dizimadas. A reputação da Hero Factory, foi considerada um sucesso inigualável durante seu mandato, o que mudou em 2014. Entre 1980 e 2014, nenhum funcionário da cidade nem suas famílias foram prejudicadas. A principal diretriz do Programa “Hero” era manter o povo da cidade seguro, mas também manter a infra-estrutura do governo da cidade, a fim de impedir que a cidade entrasse em colapso. Tudo ia bem até quando em 2014,  tudo mudou. 2014 foi o ano em que alguém bombardeou a Prefeitura, trinta e cinco pessoas foram mortas, incluindo o prefeito, o chefe da polícia e sete dos dez membros do conselho da cidade. Naquele ano houve um defeito no registro da impecável Hero Factory. 

Bryan esvaziou o copo, colocou-o no balcão e fez uma careta. Com a mesma careta ele repetiu o evento em sua mente até que sua raiva atingiu um ponto insuportável. O heroi falhou em sua tarefa ou seja, em sua diretiva principal ele falhou e foi posteriormente expulso do Programa. O evento resultou no maior constrangimento sofrido pela organização desde a sua criação.A confiança na equipe de liderança da Hero Factory atingiu um ponto crítico de todos os tempos, e a Hero Factory quase fechou suas portas naquele ano.  

Bryan jogou um punhado de dinheiro no bar e riu. Uma dica falsa. Isso é tudo o que precisou para lançar o herói fora da pista dos verdadeiros perpetradores naquele dia. A dica sobre a atividade de gangues criminosas colocou o herói do outro lado da cidade, o mais longe possível da Prefeitura.  

“Criminalidade” Bryan ladrou. “Mas que chato isso foi, hein!”  

O barman sussurrou para o idoso e fez um gesto para Bryan. Em uníssono, olhavam para ele nervosamente, como se estivesse prestes a perdê-lo de vista e a atirar no lugar a qualquer momento. Ele não deu a mínima para o que eles pensavam. Francamente, ele não se importava com o quê qualquer pessoa pensava.  

As gangues não tinham tido nenhuma atividade organizada em anos antes daquela pegadinha entrar no jogo. Se o encarregado de plantão tivesse a cabeça enroscada em linha reta, ele deveria ser acionado imediatamente. Depois do bombardeio que os rumores começaram a se espalhar. Alguns disseram que o engarregado estava bêbado ou drogado na época. Outros rumores espalharam afirmando que o encarregado estava trepando com uma stripper loira  que trabalhava  no Double Deuce, localizado perto desse lado da cidade.  

Bryan saiu e inspirou o ar fresco da noite. Ele sentiu o alívio bem-vindo do ambiente cheio de fumaça dentro da taberna. À distância, as sirenes da polícia ecoavam dos arranha-céus próximos e desapareciam na noite.  

"Heróis", ele zombou e pegou outro cigarro. Ele empurrou mais um em sua boca e pegou o isqueiro. O vermelho fogo  absorveu a cor amarelada que irradia das luzes de rua do vapor do sódio sobre a cabeça. - Foda-se todos.  

Bryan voltou sua atenção para o próximo quarteirão da cidade e enfiou o isqueiro no bolso. Tropeçando um pouco por causa do uísque, ele correu pela rua antes de desaparecer entre as sombras.  

O barman e o idoso saíram da taberna e olharam para ambos os lados, esperando que Bryan estivesse longe. Convencido de que Bryan tinha ido embora, o idoso se virou para o barman.  

“Mas de que diabos esse cara estava falando?” ele perguntou.  

O barman olhou para a mão dele, segurando o morcego que ele capturou  debaixo do balcão. Ele nunca foi um daqueles de arriscar a não começar a noite, com um canhão solto correndo ao redor.  

"Zeke, você bebeu tanto o seu cérebro tá um mingau", o barman resmungou. - Você não sabe quem era?  

O velho balançou a cabeça. "Você mencionou o nome de Bryan Whittaker antes, mas não me recordo de nada."  

"Você se lembra quando Soulfire foi o herói de plantão?", O barman perguntou  

Zeke inclinou a cabeça, mas ainda parecia confuso, o que só serviu para aumentar a irritação do bartender ainda mais. Ele bateu com a ponta do bastão impacientemente contra a calçada.  

Maldito seja o seu esconderijo inútil, Zeke. Você nunca se lembra de merda alguma! "O barman baixou a voz, apesar do vazio das ruas. Como se sabe, ele nunca foi um para arriscar. Seus olhos se tornaram vidrados quando ele começou a recaptular as lembranças daqueles dias. Ele apontou o morcego na direção em que Bryan tinha andado. - Você está me dizendo que não se lembra dele?

O idoso se concentrou por um momento. O gesto fez com que ele torcesse seu o rosto como se estivesse sentado em um banheiro, sofrendo de constipação. De repente, os olhos de Zeke se iluminaram e o barman deixou cair uma mão em seu ombro.

"Exatamente!" O barman exclamou. "Soulfire era o encarregado de plantão quando a Prefeitura explodiu."

O Jogo da Fuga

O Jogo da Fuga

Alison Em Edimburgo

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